Brasília de agosto não é pra qualquer um. Pra ser brasiliense do peito, é preciso ter o fôlego e a resistência dos povos do deserto pra enfrentar o sol de agosto sem perder a suavidade. Pra sair de casa antes do sol nascer e cobrir os sapatos com saco plástico pra conseguir mantê-los razoavelmente limpos e lustrados até chegar no trabalho. Pra esperar o ônibus em pontos de ônibus desmazelados, pra atravessar as longas vias e os imensos canteiros sem uma árvore pra nos proteger. Pra enfrentar o sol que tortura nossos olhos.
Brasília de agosto é toalha molhada na cabeceira da cama, é sentir faltar o ar na madrugada, é tomar cerveja e morrer de ressaca por conta da falta de umidade que nos rouba os líquidos. É ter a pele trincada, os cabelos ariscos, é saber que não vai chover tão cedo e que não há nada que mude isso. Pouco importa se aqui é a sede do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, das maracutaias, dos lobies, dos grampos, dos interesses escusos, dos poderosos em geral. Se é cidade planejada, se é patrimônio da humanidade. Nada disso muda o clima. Estamos todos subjugados à secura, inapelavelmente.
Brasília de agosto é de uma beleza avassaladora que existe, graças aos céus, para além das miudezas dos homens. É uma cidade transparente, reluzente e desnuda. Brasília de agosto não guarda segredo de ninguém, expõe as tripas de todos nós, nos deixa nus de alma sob o sol invasivo e impudico. Não tente ser melancólico em agosto em Brasília porque não vai encontrar nenhum lugarzinho pra se esconder da devassa. Ninguém consegue se esconder sob o céu devastador de Brasília.
É linda a Brasília de agosto. As árvores nuas de folhas e de frutos, galhos desenhando uma arquitetura ao mesmo tempo limpa e intrincada. Caliandras esplendorosamente vermelhas brotando na secura improvável. Ipês estourando de amarelo, paineiras fazendo colchões de paina no chão. Lacerdinhas enroscando a poeira do chão ao mais alto do céu. Nenhuma sombra, nenhum esconderijo, nenhum descanso. Brasília de agosto é a alma escancarada.
Uma fagulha que seja se transforma num grande incêndio. Brasília de agosto entra em combustão, explode, venta raivosamente, grita, esperneia, mostra que não há poder maior que o seu. Avisa que todo e qualquer outro poder que aqui se instala e nos ilude é vão diante da força da natureza que é Brasília no período de seca.
Brasília de agosto entra em setembro, se banha de cinza, nos suja de poeira, faz a gente pedir perdão para os crimes que cometemos, os que não cometemos e os que ainda vamos cometer.
Brasília de agosto é toalha molhada na cabeceira da cama, é sentir faltar o ar na madrugada, é tomar cerveja e morrer de ressaca por conta da falta de umidade que nos rouba os líquidos. É ter a pele trincada, os cabelos ariscos, é saber que não vai chover tão cedo e que não há nada que mude isso. Pouco importa se aqui é a sede do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, das maracutaias, dos lobies, dos grampos, dos interesses escusos, dos poderosos em geral. Se é cidade planejada, se é patrimônio da humanidade. Nada disso muda o clima. Estamos todos subjugados à secura, inapelavelmente.
Brasília de agosto é de uma beleza avassaladora que existe, graças aos céus, para além das miudezas dos homens. É uma cidade transparente, reluzente e desnuda. Brasília de agosto não guarda segredo de ninguém, expõe as tripas de todos nós, nos deixa nus de alma sob o sol invasivo e impudico. Não tente ser melancólico em agosto em Brasília porque não vai encontrar nenhum lugarzinho pra se esconder da devassa. Ninguém consegue se esconder sob o céu devastador de Brasília.
É linda a Brasília de agosto. As árvores nuas de folhas e de frutos, galhos desenhando uma arquitetura ao mesmo tempo limpa e intrincada. Caliandras esplendorosamente vermelhas brotando na secura improvável. Ipês estourando de amarelo, paineiras fazendo colchões de paina no chão. Lacerdinhas enroscando a poeira do chão ao mais alto do céu. Nenhuma sombra, nenhum esconderijo, nenhum descanso. Brasília de agosto é a alma escancarada.
Uma fagulha que seja se transforma num grande incêndio. Brasília de agosto entra em combustão, explode, venta raivosamente, grita, esperneia, mostra que não há poder maior que o seu. Avisa que todo e qualquer outro poder que aqui se instala e nos ilude é vão diante da força da natureza que é Brasília no período de seca.
Brasília de agosto entra em setembro, se banha de cinza, nos suja de poeira, faz a gente pedir perdão para os crimes que cometemos, os que não cometemos e os que ainda vamos cometer.
Brasília de agosto inventa uma nova dimensão — expande o espaço físico, faz a arquitetura moderna dançar aos nossos olhos. Deixa o asfalto ondulante, a grama amarela, quase raivosa, as árvores arredias e os homens espantados diante de tanta força da natureza.
Portanto, fujam os medrosos porque em agosto Brasília não perdoa os hesitantes, os omissos, os titubeantes.
Portanto, fujam os medrosos porque em agosto Brasília não perdoa os hesitantes, os omissos, os titubeantes.
Brasília em agosto, com a licença de Euclides da Cunha, é para os fortes.